Valsa das Pétalas - pt. II

Eu, que me fiz assim cores, tornei-me Dolores cedo, porque odores são segredo das entrelinhas dos instantes. Sem querer, comecei a arrumar amantes, como se gritasse: “venham todos”. Nunca dei nem um aí... quer dizer... A gente dá mas não diz, vai acontecendo e como maçã em fruteira nunca murcha.. Sempre pronta para um novo amor, protegida pelo calor lá de dentro, pelo que forjo aqui fora, pelo que emendo com a vida, pois que não vou embora, mesmo... Fico olhando a vida e jogo “um olhar profundo... nada acontece nesse mundo”... E da minha passível indiferença vem a crença que meu olhar é fugacidade e deste mistério vem outro moço bonito mas, como se achasse esquisito, ele vinha rápido para o meu infinito... Só eu sabia que ali ele chegava, pois o infinito é apenas um ponto no horizonte sempre adiante, para mais um amante... Todos sabiam os odores de Dolores mas ficava sábia em minha renovação... Fosse um, fossem dez... Nada me fazia que o que estivesse a meus pés não fossem rosas champagne e antes que eu as apanhe, meu homem vem bonito, um macho brasileiro, fazendo-se fogueteiro, pois macho que é macho é malandro de entrar nos meandros de mim e me fazer sem fim... Eu nunca paro, disparo, díspar daquele que vem, daquele que passa, longe de tudo e da desgraça, sorvendo no instante o prazer de viver.. Nada de perpetuar, simplesmente o ar invadindo, eu arfando, ele urdindo como quem tece, estremecendo como quem goza... Mas, ainda bem, sem muita prosa, vai-se em seu estremecimento e neste esquecimento fico rosa outra vez, rosa champagne, rosa de banho, rosa de espinhos, rosa de vida rodando... pétalas...

© Érico Baymma (2006)