terça-feira, 20 de maio de 2008

A VINGANÇA



Autor: Zinah Alexandrino



Maria Alice acordou no meio da noite pelo toque insistente do telefone. Encaminhou-se meio cambaleante para atendê-lo:
-Alô!
A voz respondeu do outro lado.
- Maria Alice! É você?
- Sim.
- É Vânia. Como está?
-Vânia! Não me diga que você me acordou no meio da madrugada, só para saber como eu estou? –Você não poderia ter esperado o dia amanhecer?
- Desculpe-me, amiga! É que acabei de saber de uma notícia que lhe interessa e muito.
- Tudo bem, mas que notícia tão urgente é essa?
- Maria Alice, o seu ex-marido acabou de falecer.
- E o que tem isso?- meu pai também morreu.
- Meu Deus, que mulher insensível.
- Está bem, Vânia. Eu estava brincando,é que não gosto de cansar minha beleza à toa, se fosse ao menos uma pessoa importante,mas aquele traste!.De qualquer maneira é bom saber que no planeta que eu respiro, há um elemento ruim a menos, para contaminá-lo com a sua existência.
Maria Alice não conseguiu mais dormir, naquela noite. Seu cérebro agora funcionava a mil.Fez uma retrospectiva do que fora todos aqueles anos perdidos ao lado do ex-marido;não o odiava pelo que ele a tinha feito passar na vida, no fundo até que soube tirar vantagens do seu sofrimento,pois graças a tudo que sofrera,chegou a uma fase sublimada da vida.Tinha certeza de que se tivesse levado uma vida fácil e sem dificuldades,talvez hoje, não passasse de uma pessoa fútil; no entanto,graças ao seu espírito de luta,que lhe era peculiar,conseguiu superar todo o sofrimento e se voltar para a religião,as obras de caridade,os familiares e amigos sem amargor, ao contrário,era uma pessoa alegre,extrovertida e de bom humor.Os amigos adoravam esse seu lado irônico de tirar partido de determinadas situações.
Quando o dia amanheceu, ela já havia resolvido: iria ao enterro. Chegou ao cemitério quase na hora de cobrirem o caixão.Todos se voltaram para aquela figura,surpresos. "Vestida para matar”.Hiper maquiada, num vestido estampado esvoaçante, muito sensual,sandálias altíssimas,com um perfume embriagador,pedindo passagem entre a multidão,surgiu Maria Alice e gritava- Abram o caixão! Logo que os coveiros içaram o caixão para vir à tona, ela apressada gritou mais uma vez-Abram! Quando todos esperavam que ela fosse se debulhar em lágrimas, ela mirou bem o rosto do morto, e deu-lhe uma cuspida no meio da cara, deu meia volta e saiu como chegou, de supetão. As pessoas assistiam àquela cena tão inusitada, perplexas. Maria Alice pensou ...estou vingada !



*Zinah Alexandrino é ESCRITORA E PRESIDENTE DA ACADEMIA FEMININA DE LETRAS DO CEARA;"SOU POETA DAS FLORES,POETA DOS MARES,POETA DOS RIOS,POETA DAS FONTES DE TODAS AS ÁGUAS.POETA DE TERRA FIRME,POETA DOS MONTES E MONTANHAS,POETA DAS MATAS,DE TODA A VEGETAÇÃO,POETA DAS ZONAS, DAS GRANDES CIDADES,DAS FÁBRICAS,DAS CHAMINÉS.POETA DO COTIDIANO,DA VIDA DE CADA UM.POETA DAS MÁGUAS,DAS ALEGRIAS,POETA DO AMOR,POETA DO CRIADOR DOS POETAS..."(poema do meu livro"SUTILEZAS"-Fortaleza,2006




Um comentário:

josé leite netto disse...

parabens pelo seu/nosso dedicação a literatura. creio que na escrita sempre serve uma dose de musica e outra de lucidez. se é que existe.

bjs

z